Casa Velha

14/05/2009 22:00 Postado por MOIZA MPIRATE
Quintal de chão batido, terra.
Poço que já ninguém lembra,
posso supor que secaram água e lembrança.
Um corredor frio, úmido da chuva, abrigo dos cães,
abrigo da primeira vez, primeiro amor.
Chão de taco, chão de giz, de cera, tijolo e vermelhão,
reboco a desmanchar, suor do sol, soprar do vento,
passar do tempo e passava, horas
a espreitar a vida, o povo, as nuvens.
O pai também, não ria,
mesmo assim via sorriso no rosto.
Desenhos das nuvens, paisagem da mata santa,
tudo ali, portão e porta.
A rua era o circo, o mundo era a rua,
às vezes violão, às vezes cigarro,
do lado a plantação.
Casa velha sorria,
o pé de jambolão, o pé de manga
de Pitanga.
E o rancho com trens de pesca, chumbo,
o cheiro ruim do remédio de fígado de bacalhau,
curau, até a vó que brigava, falava mal, ranzinza.
A casa velha chorava cada voz que se calava:
Maria, Mariquinha e tinha Zirda e tinha
visita da tia, bom o bolo de fubá,
ah sim, erva-doce pra enfeitar.
Tinha o tio, todo mundo conhecia
Velhaco bom e servil,
pescador igual nunca vi,
irritava a mãe se falava:
Boquinha de siri.
A casa velha fecha a porta,
mas vou e volto dali,
sento a janela da sala, apoiado no sofá,
olho a rua e a calçada.
Já nem sei de quem é a lágrima que reflete na vidraça,
se é minha ou é da casa.
Mas ao partir fico ali,
eu e casa,
lembrando a saudade, juntando pó.

Moiza 14/05/09

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