Anibal acaba de bebericar seu licor, coisa que fazia sempre após o jantar, aconchegando-se na espreguiçadeira, na sala de estar. Por ali sempre passava a família: Dona Sandra, o filho Jairo e Mariana, a filha mais nova.
O homem gostava de se acercar de todos e fazia isso pelo próprio ego, era como se ele assumisse o comando da tropa naquele momento.
Já Dona Sandra cumpria seus afazeres do lar, terminando a limpeza da louça e se preparando para o sofá, companheiro de suas noites, até o sono e o final da novela das oito lhe atirassem para o quarto do casal.
Jairo estava na idade em que o computador era seu melhor amigo, era antenado: face book, msn, orkut, blogs, pouco ficava na sala, preferia a privação do seu quarto, mas, vira e mexe corria até a cozinha para se munir de porcarias que mantinham sua boca ocupada e seu teclado emporcalhado.
A mais nova, entretanto, tratava o pai como ele queria: O mestre da sabedoria, aquele que podia tirar todas as suas dúvidas. Uma espécie de "Dicionário do Saber". Fazia sua lição por ali e nesta noite, lendo seu livro de ciências, a menina se deparou com uma dúvida, e não hesitou em pedir ajuda ao seu "Pai-Google":
- Pai, o senhor sabe como é o processo da fotossíntese?
O homem olhou-a por cima dos óculos e se ajeitando na cadeira disse:
- Muito bem, nós estamos falando de plantas não é garota?
A menina sorriu, como se reconhecesse a astúcia do pai.
- Certo pai, o senhor sabe então como é?
- Sim querida, eu sei.
A menina olhou o pai por uns segundos e não percebendo reação retrucou:
- Então pai, me diga logo o que é isso, to curiosa.
- Mas filha, sua professora ainda não he ensinou isso?
- Ah pai, se ela já tivesse me ensinado não tava perguntando né, derrrr.
- Hum, mas não é bom lhe ensinar antes dela, sabe como é, ela pode não gostar.
- Ah tá, e o senhor acha que eu vou contar pra ela? Lógico que não né. Me diga logo o que é.
- Mas filha o que importa é que eu sei que está errado lhe ensinar antes que ela.
A mãe, ouvindo a conversa interrompeu:
- Anibal, deixa de frescura e conta logo pra menina como é esse negócio ai.
- Pronto, agora não sei de mais nada, a mãe que deveria zelar pela educação dos filhos querendo que eu atropele a professora, mas onde ja se viu.
- Não é isso não homem, a menina ta curiosa, acha que se contar ela vai deixar de ser boa estudante. Conta logo Anibal.
- Ah, mas já que você é a sabe-tudo por que não explica pra menina então?
- Oras, porque eu não sei né, se soubesse ja tinha dito.
- Bom, nesse caso então sou o único que sabe aqui e acho melhor que ela aprenda com a professora, pra você depois eu explico.
- Mas pai, se o senhor contar pra mãe depois ela me conta, então conta o senhor mesmo vai.
- Filha to fazendo isso pro seu bem.
Nessa altura, a conversa ganhava volume, ja incomodando o filho no quarto. Jairo abriu a porta e gritou de lá mesmo:
- fotossíntese é o processo que as plantas transformam energia luminosa em energia química, liberando o oxigênio.
A menina, percebendo a situação embaraçosa do pai, desistiu, voltou a ler seu livro, ainda sem entender como se dava o tal processo.
A mãe, conhecendo a indignação do pai disfarçou, fez que não era com ela e virou-se para a TV.
O pai se remexeu na cadeira, apanhou a revista e disse:
- A culpa é desse plebiscito, amplo, geral e irrestrito.
A menina voltou-se para o pai e lançou:
- Pai o que é plebiscito?
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Moiza
