DILMA GANHOU A VACA

11/11/2010 22:19 Postado por MOIZA MPIRATE
A luz acendeu cedo na casa do Seo João, quitandeiro conhecido na pequena Vila Ipanema. Certo era que sempre ali o dia começa antes de amanhecer, mas naquele dia o despertar foi antes ainda do galo cantar.
Seo João queria chegar cedo ao pasto que abrigava as noites de sua vaca “Magdalena” e o velho exigia que colocassem o tal “g” na dicção do nome, chegava a brigar: - Não é Madalena não moço é Ma-gui-da-le-na.
O motivo da pressa do Seo João era plausível, vez que ouvira dizer que uns malandrinhos da vila vizinha espreitavam a Magdalena já havia dias e o melhor horário para surrupiar o animal era pela manhã, antes do despertar do dono.
Virando a esquina o velhote já pressentiu problema grande, achou a corda que prendia a vaca no mourão e saiu correndo em direção ao local de pernoite da vaca.
Chegando lá não a avistou e sentiu aperto no coração: um bichinho cuidado com tanto carinho, por mais de doze anos com o homem, não dava mais muito leite não, mas já era parte da família do Seo João.
Dava pena do homem, que sentou no chão, mão na cabeça, sem saber o que fazer. Pensou em ir até a vila vizinha e resgatar Magdalena a força, mas ele, um velho com mais de 60 anos, mãos já cansadas da lida, que poderia fazer contra aquele povo forte e sem coração?
Pensou ainda em chamar o Dr. Aristides, advogado que lhe ajudava às vezes com as questões da quitanda, mas lembrou que o homem viajara a capital para tratar de negócios e só voltava no próximo mês.
Ficou ali matutando e sem ação, sentado na grama do pasto, esperando algum milagre.
Não é que de repente, uma carreata surge lá no fim da estrada de terra, era tanto carro que levantava uma poeira vermelha que ia até o céu. Seo João levantou-se e caminhou até o meio da estrada, colocando-se praticamente a frente da comitiva que chegava cada vez mais perto dele.
O carro preto, com a luz de um giroflex brecou no pé do homem que ficou ali parado, enquanto os carros que vinham atrás iam, um a um parando também.
Seo João levantou os braços e sacudiu a mão acenando pro homem de óculos escuros que o fitava num semblante pouco amistoso, disse: - Moço careço de ajuda, minha vaca sumiu e não vivo sem ela não.
O homem de óculos escuros olhou para seu parceiro e deu de ombros, como se perguntasse: Quem é esse Louco? O que faço? O Parceiro, sem titubear acenou para que continuasse o caminho. O motorista então desceu do automóvel e pediu para que o velho saísse do caminho, mas Seo João insistiu: Moço não tenho com quem contar não, a vaca era de estimação. O motorista fez cara de mal e alertou o velho: - Estamos com muita pressa, aqui segue a pessoa que futuramente irá governar esse país e você fica ai choramingando por causa de uma vaca, oras meu senhor, se vire e saia do caminho.
Seo João baixou a cabeça e se pôs de lado para que a comitiva então seguisse o caminho, só espiou para ver quem era essa tal pessoa cujo cargo era mais importante que a sua vaca de estimação, mas os vidros escuros do carro não lhe permitiram tal visão, só pode ler as cinco letras do nome escrito num adesivo colado no vidro traseiro. Aquelas cinco letras ficaram na sua cabeça e foi para casa pensando na vaca e naquelas letras malditas que juntas formavam um nome que ele faria questão de não votar.
Ao chegar a sua casa qual não foi o seu susto ao ver que na porta, ruminando e com ar de desentendida estava a Magdalena. A vaca olhou para o dono e olhou de lado, continuou ruminando. – Mas não pode ser Madá, deixei você amarrada lá e já tava achando que o povo da Vila tinha te levado embora. Como você escapou sua peste.
Seo João num misto de alivio e estranheza abraçou sua vaca, respirou aliviado e partiu para sua quitanda, afinal estava atrasado com toda aquela confusão.
No dia da eleição fez questão de ir votar, apesar de não ter mais a obrigação pela sua idade e de nem mesmo ter votado no primeiro turno, parecia ansioso, queria que seu voto fizesse toda diferença e aquele candidato das cinco letras que ele havia amaldiçoado e decorado não ganharia jamais se dependesse do seu voto.
Naquele dia, à noite, olhava fixo para a TV esperando o resultado e ao saber da vitória de Dilma, Seo João se levantou, foi até a cozinha, tragou meio copo de cachaça e foi-se sentar na varanda da casa, acendendo um cigarro. Magdalena que agora dormia por ali mesmo lhe fazia companhia. O velho olhou para a sua vaca, sorriu disfarçado, e disse:
É Mada, a Dilma ganhou a sua vaca hoje.
A vaca olhou de lado e continuou ruminando o mato babado que tinha na boca.

Moiza

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