O CANTO DO VIRA

19/03/2011 00:21 Postado por MOIZA MPIRATE
Ouvi o canto rotineiro do vira, tão logo o dia se fez
O clarão do sol em meu rosto fez a pressa.
Por um segundo me esqueci da vida,
sentei ao meio da cama, os olhos nas pernas nuas,
o rosto ainda com expressão de sono: me lembrei de você.
Deitei-me de novo.
O sol ja queimava, o dia seguia,
perdido ainda em meus pensamentos olhava o teto.
Só o canto do pássaro é que me prendia ao real,
e o real já não me importava, pois nada nele me fazia feliz,
você já não estava ali, meu sol então não valia.
O canto rotineiro do vira era só uma triste lembrança da infância
e me dava medo pensar que aqueles bons momentos acabariam.
O que fazia eu ali?
Nada mais me interessava,
e não me valia saber que as horas passavam,
para mim elas morriam,
caiam num precipício, escuro e profundo.
Sobravam os ponteiros quebrados e as molas soltas, perdidos no ar.
Vi manchas brancas e redondas formarem-se na parede do quarto
e eram como telas com fundo verde-musgo,
as vi aumentando e diminuindo.
Assustado me virei na cama,
o barulho das velhas madeiras rangendo me dava ainda mais medo,
mas olhando pela fresta por debaixo da porta vi luz entrar,
me lembrei que já era dia e me acalmei.
Meus medos eram noturnos
e de volta ao quarto o dia já firmava.
Pensei em você novamente,
queria lhe ter ao meu lado,
Alisaria seus longos cabelos castanhos
e a beijaria na nuca, por debaixo deles.
Na mente, tudo ainda estava muito nublado,
firmei-me para tentar levantar
a dor ainda era forte.
De novo você no pensamento,
lhe queria em meus braços,
talvez sua paz se fizesse presente,
aquela que sempre vinha contigo, sua paz.
Ouvi baterem à porta, um som suave, como música,
o chão então se abriu em ondas calmas,
caminhei sobre elas até o outro lado,
de onde não poderia voltar,
não voltaria jamais ao porto seguro que era minha cama,
já não a alcançaria.
Abri os olhos, vi rodar a maçaneta,
o trinco sumir do batente e a porta se abrir.
A luz então encheu meu quarto,
mas nada vi.
Senti apenas as lágrimas que caiam dos olhos
molharem meus lábios,
pela saudade do beijo que nunca lhe dei.
Moiza
mar/1993

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