O Jardineiro de Deus

26/05/2011 22:52 Postado por MOIZA MPIRATE
Seu João era magro, seco de gordura, acordava sempre muito cedo, a lida pra ele era missão, não havia nada que lhe tirasse do trabalho.
Seu trabalho era jardinagem, podas de árvores, corte de gramas, plantas, etc.
Cuidava de quase todos os jardins das casas do bairro, algumas grandes o bastante pra se ocupar um dia inteiro, mas pro Seu João era trabalho de meio dia.
Tinha uma carroça que usava pra carregar as ferramentas e seu cavalo era como um cachorro, obediente e serviçal. Bastava assoviar que ele vinha, ou, bastava ele ordenar que o bicho ia sozinho pro terreno baldio onde ficava, na nossa rua.
Ganhava a vida fazendo só isso, criou os filhos, construiu a sua casa e se orgulhava de não depender de ninguém.
Era turrão, bruto e boca dura, não levava desaforo pra casa. Isso lhe custou muitas inimizades, além de ficar sozinho na velhice, pois nem mesmo a mulher, que viverá com ele muitos anos, suportou a falta de carinho do homem grosso, porém era sujeito direito e trabalhador.
Seu João era enigmático também, pois apesar de fechado no coração havia boatos que tinha alguns casos, muitos deles revelados por ele mesmo, logicamente pra quem ele tinha mais liberdade.
Falo isso porque eu era um deles, o homem sempre me confidenciava alguma peraltice.
Seu João era homem de boa conversa, casos engraçados, histórias reais e pura fantasia.
Depois de velho passou a se considerar um escravo do trabalho, reclamão, dizia que não tinha paz, não tinha descanso. De certo era o cansaço da idade que lhe batia à porta e ele pra manter a postura de homem forte, ao invés de reclamar do trabalho pesado, reclamava dos outros que lhe atormentavam querendo seu trabalho.
Depois que me mudei do bairro tive pouco contado com o velho homem, mas a pouco, quando passava por lá, o encontrei sentado na praça, parei o carro e fui até ele, o que me valeu um grande abraço e uma história, que se foi a última, foi a melhor.
O velho me chamou de lado e disse que tinha acordado pela manha e saiu à rua, mas que avistou uma grande escada, lhe travando a passagem, curioso subiu pelos degraus que iam até o céu. Lá chegando encontrou um céu totalmente abandonado, grama por cortar, árvores por podar e muito mato. Uma bagunça que lhe deixou muito nervoso. Teve ele que cuidar de tudo lá também.
Mirei os olhos nele e esperei pela moral da história, que sempre vinha no fim dos seus casos. Seu João olhou pro chão, balanço u a cabeça e argumentou se já não bastava sua vida dura enquanto vivo, se lá no céu também teria a mesma aporrinhação.
Depois jurou de pé junto que não foi sonho, que aconteceu realmente e eu não contestei, porque uma coisa é certa: Se Deus quiser um bom jardineiro pro céu, tai um homem que vale a pena contratar enquanto vivo.

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